Estamos dispostos a abrir mão de prazeres imediatos aos quais estamos acostumados para, mediante a vivência de experiências nada-fáceis, nos entregarmos ao ideal de amar a Deus acima de todas as coisas e de amar ao próximo e a si mesmo? Que benefício essencial pode ser obtido com a prática da renúncia de condições ou circunstâncias aparentemente normais para a maioria das pessoas, mas que, mediante sincera meditação, já nos é possível perceber não se tratar do ideal para quem, em verdade, queira agir de acordo com as leis da consciência? Seria emocionalmente salutar sacrificar intentos, desejos e gozos para lograr um avanço evolutivo em sentido mais profundo? Ocorre que recentemente um zeloso amigo espiritual, a quem devemos sincera gratidão, o benfeitor Honório, pela psicofonia do querido irmão Afro Stefanini II, nos trouxe oportunas reflexões que permitem concluir ter sido Jesus o maior exemplo da prática do sacrifício, pois Ele renunciou às venturas celestiais de seu estado de espírito puro para viver na Terra como um ser encarnado num corpo comum, em período de extrema barbárie social. Ainda assim, ele cumpriu seu mister de trazer as lições de amor e fraternidade, dada a sua envergadura moral, ofertando-nos diretrizes seguras para aqueles que lhes buscavam (e buscam) ouví-lo com a alma. Logo, na citada condição de modelo de sacrifício pessoal, Jesus demonstra a importância do trabalho interior para cada criatura encontrar em si mesmo as bases parase desapegar dos seus interesses exclusivamente egoístas, o que somente é possível pelo exercício do amor, que constitui o propósito existencial amplo e geral de todos os seres humanos. Torna-se relevante, assim, para quem pretenda conhecer e refletir sobre os ideais cristãos para, então, vivenciá-los, perguntar a si mesmo quais são os seus interesses puramente egóicos. E logo em seguida, pelo livre-arbítrio bem direcionado, “eleger o caminho da prática do amor”, conquanto isso resulte em muita incompreensão por parte da maioria das pessoas que enxergam tal escolha como sendo uma loucura, ou um desperdício, ou, ainda, como uma busca de querer se mostrar melhor que os demais, valendo considerar, por isso, que cada pessoa é responsável apenas por si mesma, não tendo como agir por outrem nem agradar a todos. Certamente, para os materialistas ligados à gananciosa e exagerada busca pelo dinheiro a que são apegados, seus interesses egoístas devem ser, exatamente, a posse ilusória, ou o status social. Para os sexólatras, os interesses egoístas (que não lhe trazem bem estar essencial, mas que produzem o prazer meramente imediato em desalinho), são aqueles que lhes prendem à sensualidade e à sexualidade exagerada. As pessoas que, muitas vezes sem se perceberem, consideram-se superiores às demais, denotam ter como interesses egoístas justamente a satisfação de seu orgulho, em detrimento do sentimento do próximo. Já para aquelas pessoas excessivamente ocupadas com a aparência física, os desejos egóicos devem estar ligados ao prazer de se sentirem admirados por fenômeno passageiro, razão pela qual tanta gente sofre por não saber lidar com o envelhecimento natural do corpo físico, o que não significa afirmar que devamos ser desleixados para com a saúde, com o bem estar de cuidar do corpo emprestado por Deus. Enfim, cada pessoa em estado de consciência desperta deve ter momentos para se questionar sobre a natureza de seus interesses; silenciar para ouvir a resposta que vem da consciência; e, refletindo com o coração, decidir pelo melhor, ainda que ao preço de sacrificar pensamentos e hábitos derivados do orgulho e do egoísmo. Naturalmente, diante do desafio que isso acarreta, a oração é recurso indispensável para se manter perseverante no escopo maior e mais benéfico para si e, por conseguinte, para os entes que estejam ao seu derredor. Resta claro, portanto, que o autoconhecimento das próprias dores e mazelas por serem acolhidas, aceitas e tratadas, é o primeiro passo para quem busca se libertar do autoengano e ter uma vida mais plena de realizações possíveis e que trazem um prazer mais perene, que é o de amar e semear o amor. Não é tarefa fácil o trabalho interior para o reconhecimento dessas dores e mazelas, filhas do orgulho e do egoísmo que trazemos ao longo dos tempos e que não tem sido cuidadas devidamente. Porém, tal misterse apresenta como pressuposto para nos dispormos a sacrificar tais dores e encontrarmos paz de espírito, uma paz que, possivelmente, nunca tenhamos experimentado antes em decorrência da viciação dos prazeres advindos da exaltação da personalidade. Isso porque o mau hábito de nos entregarmos sem vigilância à satisfação dos desejos egóicos, sem nos ocuparmos com as consequências danosas em maior escala para conosco mesmos, cria um vício de difícil tratamento, que é o vício de nos enganar em relação ao que é real, porquanto passamos a acreditar na imagem irreal que criamos e projetamos de nós mesmos. Além do autoconhecimento, é fundamental percebermos que a não vivência do amor nos causa uma dor tão profunda, que acabamos por criar a nossa volta um mar de maus hábitos nada saudáveis para fugir ou disfarçar o vazio existencial gerado por essa secular escolha infeliz, porque ao escolher o egoísmo e o orgulho amortecemos nosso potencial criativo, nossa factível alegria de viver, etc. Desta forma, para sacrificar e transmutar egoísmo em alegria de ver e contribuir com a felicidade alheia; bem como para renunciar e transformar orgulho em humildade de nos reconhecermos como filhos de Deus, com capacidades e limitações por serem superadas por nós mesmos, temos um único caminho: o amor em sua plenitude, ou seja, o autoamor, o amor ao próximo e o amor a Deus. |
Autor(es): Nestor Fidelis |
Fonte: https://www.rdnews.com.br/colunistas/nestor-fidelis/renuncia-aos-interesses-egoistas/77996 |