Um grande amigo passou recentemente por uma cirurgia de emergência. Em poucos dias descobriu uma enfermidade e de repente se viu numa situação de dependência de cuidados especializados numa UTI. Mas o mais interessante foi ouvi-lo narrar que ainda na sala de cirurgia, após receber a anestesia e antes de perder a consciência, ainda ouviu o médico cirurgião dizer que se tratava de uma operação grave, com risco de sangramento e parada cardíaca. Nesse momento o paciente ficou naturalmente fragilizado, mas no mesmo instante sentiu a mão de uma enfermeira segurando a sua e o seu braço dela o sustentando pelos ombros, o que para o paciente foi interpretado como um sinal de que não estava desamparado. E esse paciente, com muita gratidão, após receber alta hospitalar, fala com emoção sobre cada profissional da enfermagem que foi tão significativo para ele. Numa outra situação ocorrida há poucos meses, nos despedimos de uma amiga querida que ainda jovem nos deixou, mas com valiosas lições. Entretanto, o carinho e toda a atenção que os profissionais da enfermagem lhe prestaram nos dias em que esteve internada comoveram seus familiares de tal forma que, mesmo passados alguns meses, periodicamente eles levam presentes ou de alguma forma tentam retribuir todo o benefício doado em favor daquela pessoa que partiu com o coração cheio de gratidão pela “turma da enfermagem”. Quantos de nós temos experiências parecidas com essas? Quantas vezes gostaríamos de, como forma de fazer justiça, propiciar meios para que enfermeiros ou técnicos de enfermagem pudessem ser valorizados por ter sido tão importantes em momento de maior fragilidade em nossas vidas ou de nossos familiares? Por outro lado, também é verdade na vida de muitas pessoas o descontentamento com o serviço prestados por tais profissionais quando não são bem remunerados, ou quando não perceberam a importância de cada gesto realizado para com os pacientes. Isso tudo nos faz pensar que não há mais espaços para dúvidas no tocante à necessidade de aprovação do projeto de lei 2564/20 que tramita no Senado da República, versando sobre a instituição do piso salarial desses profissionais. Ora, se existe o piso salarial dos profissionais da educação, do advogado, do farmacêutico, dentre outras categorias, por que até hoje não há um pagamento de vencimento mínimo para os enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares e parteiras? Não se justifica. É claro que ao se estabelecer um piso salarial haverá um impacto nos orçamentos de órgãos públicos e privados, bem como naqueles do Terceiro Setor, que contratam a mão de obra dessa categoria, ao mesmo tempo em que se torna clara a relevância de sopesar, de avaliar e fazer escolhas administrativas mais lúcidas, eficazes e humanas com base nos valores que devem ser prioritários. Por exemplo, é preferível pagar um piso salarial justo do que investir em propaganda institucional que, não raro, mais se assemelha e promoção pessoal de gestores. É uma questão de escolha de prioridades numa sociedade que está despertando para os verdadeiros valores que já deveriam estar sendo observados há décadas. A preocupação por parte dos contratantes é natural, porque haverá a necessidade de se pagar o que lei deve determinar, no entanto, isso demonstra o quanto os profissionais da enfermagem atualmente são explorados e desvalorizados. Ora, merece ser frisado novamente, trata-se de uma questão de prioridades, pois se investem em equipamentos, na remuneração de outras categorias de profissionais da saúde, mas os enfermeiros não são mero coadjuvantes, ao contrário, são aqueles com maior senso de humanidade e amor para com os pacientes, ou seja, para com todos nós que já necessitamos ou ainda necessitaremos de atenção em momento de maior dependência. Assim, conquanto adequações administrativas se tornem necessárias para se equilibrarem as contas de instituições públicas ou privadas de saúde, nada mais pode reter o momento da valorização dos profissionais da enfermagem, tendo chegado a hora de nossos parlamentares federais demonstrarem seu senso de justiça social. |
Autor(es): Nestor Fidelis |
Fonte: Nestor Fidelis |