Posso ajudar?
Um amigo muito amado sempre nos diz que “boa vontade mal direcionada sempre gera problemas”. É que muitas pessoas pensam que basta boa vontade para se fazer o que é preciso e o que se mostra como o mais correto para determinada situação.
Em verdade, não basta querer ajudar, querer amparar, ou querer demonstrar apreço e afeto, se o objetivo maior realmente for o de ajudar.
Antes de tudo, imperioso saber que ninguém ajuda a outra pessoa, essencialmente, se não se atende em primeiro lugar. Como orientar alguém a fazer algo que a própria pessoa que quer ajudar não se esforça para realiza-lo?
Por certo, a dica ou conselho será natimorta (o). Não que o ajudante tenha de se mostrar como uma pessoa já perfeita, o que sabemos ser impossível. Mas é necessário estar em movimentação, em ação para a transformação interior para melhor, com o fito de poder, com legitimidade real, orientar a outrem.
E, como visto, a ajuda será quase toda inócua se ofertada com mera boa vontade, eis que se não houver um direcionamento, conquanto amargo, para o caminho mais adequado para aquele momento.
O ditado popular já diz, “de voa vontade o inferno está cheio”.
Por outro lado, merece análise a reflexão do Apóstolo Paulo: “Mas Paulo respondeu: que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração?” (Atos, 21:13).
Ocorre que ele, Paulo de Tarso, se preparava para os testemunhos que encontraria logo mais em Jerusalém. Intimorato e totalmente entregue aos ideais cristãos, a ponto de haver asseverado não ser mais ele quem vivia, mas o próprio Cristo que nele vivia, sentia-se pronto para os desafios vindouros. Porém, também se encontrava sensibilizado com o choro dos companheiros que, mesmo dispostos ao sacrifício por amor a Jesus e seus ensinamentos, não compreendiam a extensão das atitudes do convertido da estrada de Damasco.
Logo, a pergunta lançada por Paulo traz significativa lição para todo aquele que se distrai com relação ao dever consciencial de vigilância para com os próprios pensamentos, sentimentos e ações, porquanto se lamentar ou prantear (muitas vezes para demonstrar que gosta da outra pessoa) em nada auxilia àquele que passa pelo momento desafiador. Ao contrário, enfraquece-lhe as resistências, seja em que situação for.
Isso significa que o convite evangélico é para que sejamos frios, insensíveis e racionais no limite de nossas forças? Claro que não! Mas, impende considerar o convide de Jesus: “vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mateus, 26:41).
No livro Pão Nosso, Emanuel, por meio da psicografia de Francisco C. Xavier, traz oportuno pensamento, “in verbis”: “Jesus chorou no Horto, quando sozinho, mas, em Jerusalém, sob o peso da cruz, roga às mulheres generosas que O amparavam a cessação das lágrimas angustiosas. Na alvorada da Ressurreição, pede a Madalena esclareça o motivo de seu pranto, junto ao sepulcro.
Se um ente amado permanece mais tempo sob a tempestade necessária, não te entregues a desesperos inúteis. A queixa não soluciona problemas. Ao invés de magoá-lo com soluços, aproxima-te dele e estende-lhe as mãos”.
Desta forma, frente a qualquer circunstância, ainda mais em momentos de dúvidas quanto à ideal atitude para cada caso, é válido orar, entrando em comunhão consigo mesmo e com as fontes de luz e equilíbrio que regem o Universo; silenciar para ouvir a resposta que chegam como vozes-alerta da consciência; e, sempre vigilante, exercitar a liberdade de escolha e agir de modo a, realmente, auxiliar, evitando-se perda de tempo e de energia com descuidos emocionais que não ajudam em nada, ao contrário, mais atrapalham.