Três cidades de MT terão centros para combater droga
O programa "Crack, é Possível Vencer", do Governo Federal, começa a ganhar corpo em Mato Grosso. No Estado, as cidades mais populosas serão contempladas com a construção de centros de tratamento, bases de monitoramento e instalações de diversas câmeras para monitorar os pontos de uso do crack.
O programa irá atuar nas cidades de Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis. De acordo com o gestor do programa em Mato Grosso, Nestor Fernandes Fidelis, as cidades foram contempladas devido ao grande número de habitantes.
“O programa determina que só cidades com a população a partir de 200 mil habitantes podem ser inscrever no programa. O entendimento é que essas cidades são os principais polos de uso e de distribuição do crack”, explicou.
Fidelis, que é secretário adjunto de Estado de Justiça, ressalta que o programa funciona em várias etapas, que vão desde a prevenção ao monitoramento ostensivo dos pontos de uso do crack.
Em Cuiabá, por exemplo, foi realizado um mapeamento que detectou os 10 bairros onde se tem o maior consumo de crack. “Esses bairros serão monitorados 24 horas pelo programa”, enfatizou o gestor, que não quis revelar os nomes destas comunidades. “Não vejo necessidade de divulgar os locais. Isso, inclusive, pode até atrapalhar nas ações”, completou.
Fidelis ressalta que policiais militares serão capacitados pelo programa. Até o momento 139 agentes da polícia já foram capacitados para fazer a abordagem adequada aos usuários. “Que, na verdade, são vítimas desse processo também, ou seja: a abordagem não tem que ser feita igual àquela que se faz com um criminoso, por exemplo,” ressaltou.
Também está previsto, para os três municípios, a chegada dos kits de enfrentamento ao crack, que inclui, por exemplo, o uso de micro-ônibus para o acompanhamento dos usuários que estão na rua.
“Esse veículos são verdadeiros centro de acompanhamentos de situação de rua. Ele é todo cheio de monitores interno e diversas câmeras. Funciona 48 horas, a base de bateria, sem ligar o motor. Fica parado, discreto, fazendo o monitoramento dos usuários”, destacou Fidelis
As cidades também serão contempladas com viaturas e motos para fazer o monitoramento dos pontos de uso do crack.
Fidelis explica que o trabalho será feito de forma conjunta, entre policias militares e assistentes sociais. A ideia é mapear os pontos, se aproximar dos usuários e tentar convence-los ao tratamento.
“Quero ressaltar que o objetivo do programa Crack é Possível Vencer não é fazer internações compulsórias. Se não, a impressão que se tem é que nós queremos varrer essas pessoas da rua por causa da Copa e não é isso. Nosso objetivo é o tratamento é a recuperação desses usuários”, afirmou.
Mato Grosso aderiu ao programa no último dia 6 de agosto. Nas cidades de Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis, o programa atuará em três eixos: Prevenção, Cuidados e Autoridade.
De acordo com Fidelis, os recursos para o custeio das unidades de tratamento serão permanentes e chegarão via Governo Federal.
Estima-se que há 6 milhões de usuários de crack no Brasil
“Falta enfrentamento adequado”
Quem enfrenta o drama do crack de perto é Fernanda Ribeiro (nome fictício), que pediu para não ser identificada.
Ela relata que tem um companheiro que usa a droga e que hoje está em processo de recuperação. “É um sofrimento muito grande, tanto do usuário quanto de toda a família”, relata
Ribeiro entende que o Estado não está preocupado em resolver a questão das drogas. “Não há interesse, tanto que o consumo de droga só fez aumentar nos últimos anos. Não há políticas públicas eficazes para enfrentar o problema”, critica.
Ela entende que o Estado erra ao focar o problema nas drogas.
“O problema é de ordem psicológica. A droga, na verdade, é um pano de fundo que a pessoa usa para acobertar o seu problema. O que acontece com os tratamentos de hoje é que os usuários são jogados numa vala comum, são taxados de drogados, e não há um cuidado de se olhar caso por caso”, afirmou.
A professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Delma Perpétua Oliveira de Souza, mestre em Saúde Coletiva, também comunga da tese de que o uso das drogas está relacionado aos distúrbios psicológicos.
“E quando essa pessoa entra em contato com as drogas, ela sente um prazer imenso, na realidade, é um alívio de uma dor que ela tem, ou algum tipo de trauma que ela sofreu na infância. Então é muito fácil falar que ela é marginal, vagabundo, imprimir todo o tipo de preconceito nessa pessoa. É mais fácil você falar que ela é isso ou aquilo do que admitir que você não têm o conhecimento devido para entender a questão”, analisou.
Efeito do crack
Segundo a professora, quando uma pessoa fuma um cachimbo de crack, o efeito é quase que instantâneo.
“É questão de cinco segundos para a pessoa sentir o efeito da droga, que também é muito efêmero. Por isso, o usuário de crack está o tempo todo à procura da droga. Se compararmos com a cocaína, por exemplo, ela demora duas vezes mais que o crack para atingir o sistema nervoso”, explicou a mestre em Saúde Coletiva da UFMT.
Confira a estrutura do Programa Crack é Possível Vencer em Mato Grosso:
Em Várzea Grande, será construído um consultório na avenida Castelo Branco; leitos especializados no Pronto Socorro; instalação de bases móveis no região do Zero Quilometro; e a construção de um Centro Popular de Tratamento; instalações de câmeras de monitoramento em vários pontos das cidade.
Em Cuiabá, será construído um consultório no bairro Grande Terceiro; 2 Centros de Atendimento Psicossocial Álcool e outra Drogas (Caps AD 24 horas); 1 unidade de acolhimento adulto; 1 unidade de acolhimento infantojuvenil; construção de um Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS A); construção de um Centro Popular na rua Major Gama; instalação de bases moveis na regiões do Leblon e Rodoviária; instalações de câmeras de monitoramento.
Em Rondonópolis será construído um consultório no bairro Jardim Santa Marta; 1 Caps na rua Augusta de Moraes; unidades de acolhimento adulto no bairro Santo Cruz; construção de leitos especializados no bairro Jardim Santo Amaro; leito no Jardim Guanabara; Serviço de Abordagem Social; construção de Centro Popular na rua Barão Rio Branco; instalação de bases móveis na Vila Operária e grande região.